Os animais de companhia fazem parte da família e partilham connosco alegrias, rotinas e até momentos de silêncio. No entanto, ao contrário dos humanos, não conseguem dizer quando estão com dor.
Essa incapacidade de comunicação direta torna essencial que os tutores aprendam a identificar os sinais de dor nos animais, que muitas vezes são subtis. Saber interpretar estes indícios pode ser a diferença entre detetar um problema de saúde a tempo ou deixar que evolua para algo mais grave.
Porque é difícil identificar a dor nos animais
A dor é uma experiência universal, mas os cães e gatos têm uma forma muito particular de a expressar. O instinto natural leva-os a esconder sinais de fraqueza, uma herança dos tempos em que viver na natureza significava lutar constantemente pela sobrevivência. Mostrar vulnerabilidade podia torná-los alvo fácil de predadores ou rivais.
Este comportamento persiste nos animais domésticos. Assim, muitas vezes, um cão ou gato pode estar a sofrer sem que o tutor perceba de imediato. A chave está em observar o comportamento diário e reparar em pequenas mudanças que, somadas, podem indicar dor ou desconforto.
Além disso, cada animal manifesta os sinais de dor de forma diferente. Alguns tornam-se apáticos e procuram isolamento, enquanto outros ficam mais irritadiços e agressivos. Por isso, observar mudanças no comportamento diário é a chave para identificar se algo não está bem.
Sinais de dor em cães
Os cães são geralmente animais expressivos, mas a dor pode manifestar-se de formas inesperadas. Em vez de chorarem ou ganirem, podem mudar de atitude, postura ou hábitos.
Alterações de comportamento
- Ficam mais irritadiços, podendo até rosnar a pessoas de confiança
- Evitam brincar, passear ou interagir como faziam habitualmente
- Procuram esconder-se em locais incomuns ou afastam-se da família
- Demonstram apatia, parecendo menos interessados no que acontece ao redor
Mudanças na postura e no movimento
- Cocheiam ou têm dificuldade em apoiar uma das patas
- Hesitam em subir escadas, correr ou saltar para o sofá
- Mantêm a cabeça baixa ou a cauda entre as pernas durante longos períodos
- Relutam em mudar de posição, mostrando rigidez ao deitar ou levantar
Sinais físicos visíveis
- Respiração acelerada ou ofegante sem exercício físico
- Tremores, rigidez muscular ou espasmos repentinos
- Lambem insistentemente uma parte do corpo para aliviar o desconforto
- Alterações na expressão facial, como orelhas caídas ou olhar triste

Sinais de dor em gatos
Os gatos são mestres em disfarçar a dor. É comum um felino com dor significativa continuar a parecer calmo, tornando a observação ainda mais importante.
Alterações no comportamento
- Reduzem ou abandonam por completo o hábito de brincar
- Evitam contacto físico, podendo arranhar ou morder ao serem tocados
- Procuram esconder-se com frequência, em locais pouco comuns
- Tornam-se mais silenciosos ou, em alguns casos, miam de forma insistente
Mudanças na rotina
- Alterações no apetite: comem menos ou recusam a comida habitual
- Alterações na ingestão de água: podem beber menos ou, ao contrário, procurar a tigela com frequência
- Deixam de usar a caixa de areia ou mostram dificuldade em urinar ou defecar
- Dormem mais do que o normal ou têm dificuldade em descansar
Sinais físicos e corporais
- Postura encurvada, como se protegessem o abdómen
- Movimentos lentos, rígidos e hesitantes
- Pupilas dilatadas, pestanejar excessivo e expressão facial tensa
- Pelagem descuidada, já que evitam lamber-se devido ao desconforto

Dor aguda vs. dor crónica
É essencial distinguir os dois tipos principais de dor nos animais.
Dor aguda aparece de forma súbita, normalmente causada por quedas, fraturas, ferimentos ou após uma cirurgia. É mais fácil de identificar porque provoca reações imediatas, como gritos ou movimentos bruscos.
Dor crónica desenvolve-se lentamente e é muitas vezes confundida com sinais de envelhecimento. Doenças como artroses, problemas dentários ou insuficiências renais causam este tipo de dor. Os sinais são discretos, mas constantes, e podem afetar gravemente a qualidade de vida.
Saber reconhecer esta diferença ajuda a procurar o tratamento adequado para cada situação.
Quando procurar ajuda veterinária
Qualquer alteração de comportamento ou rotina que dure mais de dois dias deve ser levada a sério. O médico veterinário é o único profissional capaz de avaliar corretamente a origem da dor e indicar o tratamento adequado.
Se notar sinais graves como vómitos persistentes, sangue nas fezes, convulsões ou dificuldade em respirar, deve procurar ajuda imediata. O diagnóstico precoce pode salvar vidas e evitar sofrimento desnecessário.

O que nunca fazer
- Nunca administrar medicamentos humanos, pois fármacos como paracetamol ou ibuprofeno são tóxicos para cães e gatos
- Não ignorar sinais persistentes, já que esperar demasiado tempo pode agravar o problema
- Não forçar o animal a brincar, caminhar ou comer se demonstra dor evidente
Como ajudar o animal em casa
Enquanto não chega à consulta veterinária, é possível adotar medidas simples que proporcionam alívio e conforto.
- Criar um espaço calmo e acolhedor, afastado de barulhos e movimento
- Manter comida, água e caixa de areia acessíveis, sem obstáculos
- Proporcionar camas ortopédicas, especialmente para animais idosos com artroses
- Evitar esforços físicos, como correr, saltar ou subir escadas
- Manter a temperatura ambiente agradável, evitando frio excessivo ou calor extremo
Adaptações por idade
Filhotes requerem atenção redobrada, já que tendem a esconder-se menos e a dor pode indicar doenças graves.
Adultos podem esconder desconforto para manter a rotina, sendo essencial reparar em mudanças subtis.
Idosos têm maior propensão para dor crónica; facilitar o acesso à comida e evitar escadas pode melhorar significativamente a qualidade de vida.
Um olhar atento salva vidas
Reconhecer os sinais de dor nos animais é uma das maiores responsabilidades de quem tem um cão ou gato. Identificar a dor cedo aumenta as hipóteses de tratamento eficaz e recuperação rápida.
Conhecer os hábitos diários do animal, observar pequenas mudanças e confiar no instinto de que algo não está bem pode fazer toda a diferença. Afinal, os nossos companheiros de quatro patas merecem viver com saúde, dignidade e conforto.